Pequenas dicas aos jovens procurando estágio - abril/2003
por Carlos Nepomuceno*
Aos vinte anos a gente tem a cabeça nas nuvens e não presta muita atenção nos detalhes - justamente os pontos que podem afastar o candidato de uma chance interessante. Veja como pensa o selecionador.
Quando me formei em comunicação, no convite de formatura nossa turma colocou várias frases emblemáticas. Em uma delas, brincávamos: "A faculdade só não é uma ilusão porque a gente paga!"
Há anos seleciono estagiários para minha empresa de consultoria. E observo um eterno despreparo dos estudantes para encarar o mercado. Não falo apenas de capacitação técnica, mas de pequenos e importantes detalhes para conseguir uma vaga.
Nas respostas ao formulário de inscrição online, encontro erros de português e até no endereço de e-mail. Completam rapidamente e não fazem revisão. Verifico também pequenos deslizes, que mereceriam conselhos das universidades e dos pais.
Pergunto, como provocação, em qual área o candidato deseja trabalhar no futuro. Geralmente, seleciono estudantes de comunicação ou de informática e muitos revelam preferências, algumas fora do perfil pretendido.
No anúncio, deixo claro que o trabalho é ligado à internet. Ou seja, se uma empresa quer formar um novo profissional nessa área, obviamente aqueles que preferem outros campos perdem valiosos pontos.
Uma resposta madura e realista para quem se candidata a um trabalho que talvez não seja o dos seus sonhos, seria: "Eu tenho mil planos, acho cedo tomar uma decisão agora e gostaria de experimentar este trabalho com vocês. Quem sabe não gosto?"
Cabeça aberta e disposição são duas qualidades apreciadas por qualquer contratante na hora da seleção.
Hoje, quando olho para minha vida profissional, constato que tudo que conquistei foi o resultado de três fatores: as oportunidades que criei ou surgiram, a consciência do que significavam e o fato de estar bem preparado para elas.
Um programador de HTML, que trabalhou comigo e fazia contabilidade, empolgado, mudou de área e foi estudar informática. Hoje é gerente de tecnologia de uma grande empresa. E se diz satisfeito.
A vida dá voltas e não deve se fechar portas. Depois que se entra no mercado, aliás, é muito mais fácil mudar de rumo. E acreditem: nossas certezas aos vinte anos são verdadeiras metamorfoses ambulantes.
A entrevista. Passada a primeira barreira, chega a hora da entrevista. Geralmente, todos nós desejamos ser valorizados pelo que somos e não pela aparência. Algumas empresas americanas e européias admitem bermuda, chinelo, piercing, tatuagem e cabelos longos. No Brasil, nem tanto. Aqui, os ambientes empresariais ainda são muito conservadores.
Assim, é bom ser discreto, bem arrumado, com cabelos e unhas aparadas. As meninas não devem carregar na maquiagem. Já ocorreu de bons candidatos perderem a chance por causa de um tênis inadequado ou uma camisa furada.
Por fim, interesse-se pelo ramo de negócios da selecionadora. Entre no site dela e estude. Demonstre que fez seu dever de casa. Leve também perguntas sobre o estágio: horário, remuneração e perspectivas futuras.
Pode até não conseguir a vaga - nem sempre você atende o perfil procurado -, mas certamente não perderá a oportunidade por um detalhe bobo, que pode definir seu destino profissional. Quem sabe o que pode surgir de um estágio?
*Carlos Nepomuceno é jornalista e e-consultor. Colaborador do Jornal da Tarde de São Paulo e coordenador da Pontonet, especializada em gerenciamento de projetos web, e-business, teletrabalho e ferramentas de busca. |