COMPORTAMENTO/ETIQUETA

Texto extraído do Jornal da Livraria Cultura - Agosto/98

Erros e Vícios de Linguagem

Nunca diga: Que seje feliz...De formas que...Eles tinham menas possibilidades...Para mim fazer...Lembre-se: o subjuntivo de ser é seja, locuções como de forma que não têm "s"; menos é palavra invariável, e mim não pode ser sujeito - o certo é para eu fazer. Erros como estes, que chegam a doer no ouvido e denotam sofrível conhecimento da língua portuguesa, têm ocorrido com freqüência, lamenta o jornalista Eduardo Martins, autor do Manual de Redação e Estilo de O Estado de São Paulo e apresentador do programa De Palavra em Palavra da Rádio Eldorado.

Segundo ele, é crescente o número de pessoas que desconhecem as regras gramaticais. Muita gente está perdendo a noção de concordância verbal e nominal, dizendo coisas como: Os Estados Unidos é...; a gente fomos...; o meu óculos...; ele deu o parabéns... O uso da crase, então, tornou-se um problema. É comum ver: andava à pé...; começou à falar...; quando nunca se coloca crase antes de palavra masculina e de verbo. A questão da regência verbal - saber qual a preposição que deve ser usada com determinado verbo - também gera dúvidas constantes. Obedecer o chefe ou obedecer ao chefe? Agradar o povo ou agradar ao povo? Assistir o jogo ou assistir ao jogo? Essas deficiências são agravadas pela falta de leitura, na opinião do jornalista. Mesmo que não se conheçam as normas da língua, a leitura permite assimilar estruturas gramaticais e a grafia correta das palavras, ensinando inclusive a diferenciar vocábulos com o mesmo som - calda (de doce) e cauda (de animal) etc.

Eduardo Martins chama a atenção ainda para os erros cometidos na conjugação de verbos irregulares, como intervir, por exemplo. Intervir vem do verbo vir - ele veio, ele interveio, eles vieram, eles intervieram, e não ele interviu ou elesinterviram; É como ouvir: se o governo não repor os níveis...; quando o certo é se repuser, pois repor vem do verbo por; fulano reteu, em vez de reteve, e assim por diante. "Errar na grafia de palavras como desconcertante, exceção ou disciplina, até se justifica", diz, "mas erros primários de conjugação ou dizer fulano é de menor, acredito de que...são falhas graves."

Batalhando há mais de 35 anos em defesa do idioma, o jornalista considera, entretanto, que é preciso aceitar a evolução da linguagem e conviver com ela. Ele afirma que a tendência de simplificação é irreversível e beneficia a comunicação entre as pessoas. O uso de a gente - a gente acha, a gente considera, em vez denós achamos, nós consideramos, que alguns criticam, tornou-se comum não apenas na conversação coloquial, mas em textos literários, além de estar registrado nos dicionários.

Todo idioma sofre alterações ao longo do tempo. Martins ressalta que o Português do começo do século era muito diferente do atual. Milhares de vocábulos desapareceram, outros mudaram de sentido e um grande número foi acrescido pela tecnologia - terceirizar, deletar, acessar... Além disso, diversas palavras foram transformadas e adaptadas a uma forma de expressão mais popular. Na conjugação verbal, a segunda pessoa - em especial o vós - praticamente foi abolida, por ser considerada um tanto pernóstica.

"Muitas pessoas têm receio de usar uma linguagem empolada e parecer pretensiosas", analisa. "Outras, ao contrário, querem mostrar erudição ou status e acabam adotando termos e expressões absolutamente dispensáveis, o que é uma bobagem, pois falar melhor não é falar difícil. Dizem parabenizar, por exemplo, quando poderiam dizer cumprimentar, felicitar, saudar. Recorrem a substitutos inadequados para suprir uma certa deficiência de vocabulário, como: implantei uma fábrica (você não implanta, mas constrói uma fábrica), estoque de desempregados (imagino milhares de desempregados empilhados numa prateleira), deu entrada junto ao tribunal (o certo é no tribunal) ou ainda a mal formada expressão a nível de - reunião a nível de diretoria, a nível internacional (por que não dizer reunião de diretoria ou reunião internacional?)".

Apesar de constatar tantos equívocos, Eduardo Martins comenta que existe hoje uma preocupação em falar e escrever melhor. Até porque isso vem se tornando um requisito exigido pelas empresas. Aquela imagem de que tudo no Brasil é uma bagunça, então falar bem ou mal não tem importância, está mudando. O sucesso dos programas de rádio e televisão voltados ao conhecimento do Português e a participação crescente dos jornais, com colunas específicas sobre o tema, confirmam o grande interesse pelo assunto. Há muita procura também pelos livros que esclarecem dúvidas sem a preocupação estritamente gramatical.

"O idioma faz parte da identidade cultural dos povos", enfatiza. "É um meio de comunicação entre as pessoas, um bem de todos os cidadãos, portanto, não pode ser desprezado nem tratado como uma coisa menor. Se cuidarmos da nossa casa, do nosso automóvel, por que não cuidar do nosso patrimônio intelectual?".

Esclareça suas dúvidas

  • Dicionário de Dificuldades da Língua Portuguesa - Domingos Cegalla
  • Não erre mais - Luiz Antonio Sacconi
  • Tirando dúvidas de português - Odilon Leme
  • Dicionário de questões vernáculas - Napoleão Almeida
  • Manual de redação e estilo - Eduardo Martins
  • Manual de redação e revisão - João Bosco Medeiros
  • Manual de estilo Editora Abril
  • Todo o mundo tem dúvida, inclusive você - Edson de Oliveira
  • Dicas para uma boa redação - Laurinda Grion