DIVERSOS

Mudança no Trabalho: E agora, o que eu faço?
(texto adaptado da monografia para a revista RH)

Como uma teoria Apocalíptica, eis que a nossa geração vê o fim do emprego! Cabeças vão rolar, mas não sabemos quais. Então nos escondemos, torcendo para não ser o próximo. Para nossa sociedade atual, ocidental e capitalista, visualizar as mudanças que vem ocorrendo e que ocorrerão nas formas de trabalho é algo muito duro. Tudo que vem quebrar paradigmas, num primeiro momento, assusta até que seja digerido o novo modelo e então incorporado socialmente.

Neste contexto, eis que surge a Empregabilidade. O fim do emprego é um fenômeno global, afinal o mundo atual é globalizado. Mas o que é a "empregabilidade"? Talvez possamos entendê-la como a habilidade de tornar-se empregável, não no sentido de ter carteira assinada, descanso semanal remunerado etc, mas como uma capacidade de ter trabalho, de alugar ou prestar um serviço em troca de uma remuneração financeira.

Vamos entender um pouco porque este fenômeno não acontece em um único lugar, o porquê de ser uma tendência mundial. Para isso, precisamos ter ao menos noção do que é "Globalização". Cada um tem um palpite, mas poucos realmente sabem o peso da palavra e principalmente das conseqüências que ela traz. As mudanças ocorrem quase que de forma simultânea, nas mais diversas partes do mundo. A rapidez na comunicação facilita a heterogeneidade das informações, propagação dos conceitos e mudanças de atitudes.

Sabemos que desde sua origem o homem busca meios de obter mais conforto, tranqüilidade, ver saciada suas necessidades físicas, emocionais e sociais. Porém, para realizar seus desejos, em muitas civilizações e em épocas diferentes, ele escravizou e tiranizou ao seu semelhante.

Desde o início dos tempos, as sociedades passaram por diversas transformações nas formas de trabalho, tanto para realizá-lo, quanto de pensar sobre ele. Ao longo dos séculos tivemos mudanças e revoluções que levaram as sociedades a buscar formas diversas de adaptações.

Nem sempre o trabalho foi - ou é- remunerado. Por muito tempo, e em muitos povos (inclusive atualmente), foi utilizado como forma de castigo para os escravos. Em outras situações, quando o trabalho era remunerado tratava-se de um valor irrisório, apenas para sobrevivência básica .

Na Grécia antiga, por exemplo, uma parte da população era constituída de Thetes e Metenastas, que eram trabalhadores sem qualificações determinadas, cuja sobrevivência dependia do aluguel a curto prazo de sua força de trabalho no campo, ou de seu artesanato; e como pagamento recebiam apenas comida, vestuário e calçados (OLIVEIRA, 1991).

A história do trabalho é muito extensa, chegando a Pré-História quando o Homem de animal nômade e solitário, passou a fixar-se em um ponto e ali construir sua morada, iniciando um precário sistema de agricultura. Ele já buscava, nesta época, melhores condições para fugir das intempéries e lutar pela sua sobrevivência.

Após vários séculos chegamos a era da industrialização mecânica, a qual provocou grandes mudanças sociais, tendo como principais conseqüências o abandono do campo por parte de enormes contigentes de desocupados, sem qualificações e o processo desenfreado de urbanização das cidades. Esse movimento, e todos os seus desdobramentos, não parou até hoje.

Há mais de duzentos anos a força física do homem foi substituída pela máquina. Atualmente o que conta é a sua capacidade de processar a informação e saber o que fazer com ela, já que vem a todo momento e das mais variadas fontes. Não fazer um filtro das informações pode levar a um vazio intelectual, como uma biblioteca cheia de livros empoeirados e com teias de aranha. Mais importante que receber a informação é digerí-la e empregá-la em benefício próprio e da sociedade.

Assim, o emprego foi um conceito adequado a "era industrial", adequado às fábricas e aos escritórios dos séculos XIX e XX. Mas, não mais adequado em nossos dias.

Porém, só após entendermos tais transformações poderemos compreender realmente o que significa a empregabilidade. Embora esse conhecimento ainda não forneça subsídio para tranqüilizar completamente os que atravessam tal mudança, pois sempre os que estão na vanguarda do processo tem um "pé-atrás" e receiam sobre seu futuro. Afinal, já passamos por processos dolorosos e, na minha opinião, pouco úteis financeiramente ou socialmente, como o Downsizing, Reengenharia, etc.

Vamos tentar compreender por etapas este processo...

A nossa sociedade, ocidental e atual, está adaptada ao emprego com registro em carteira, salário e benefícios proporcionados pelas empresas que alocam sua força de trabalho. MINARELLI(1995) já disse que o emprego ainda é uma necessidade dos empregados e empregadores. Mas, por melhor que seja deixou de ser sinônimo de segurança, embora durante muitos anos essa idéia tenha sido vendida aos empregados para garantir a lealdade total aos empregadores.

Mais do que admirar de camarote as mudanças, cabe à Gestão de Recursos Humanos e seus segmentos departamentais contribuir para preparar os funcionário para esta nova realidade que a empregabilidade traz, considerando as alterações deste novo cenário mundial, fomentando a busca constante do auto-aperfeiçoamento e aprimoramento incessante das habilidades existentes e aquisição de novos conhecimentos. Cabe a empresa proporcionar, sempre que possível, subsídio para incrementar a mudança e o crescimento pessoal e profissional, pois estes dois itens devem caminhar paralelamente. O Ser Humano não é um ser divisível, para que o pessoal e o profissional caminhem bem, e ele seja um ser pleno, é necessário um equilíbrio uniforme entre as áreas da vida do o indivíduo.

Mudanças conscientes, sem alarde ou pânico são bem vindas. A sociedade atual, com todas as benfeitorias e melhorias que possui é fruto de mudanças ao longo dos séculos, e em cada fase de adaptação o Homem teve medo, dúvidas mas não deixou de buscar o aperfeiçoamento e progresso constante. Essa busca é inerente ao Homem, por isso, é certo que atravessaremos mais este período de turbulentas transformações e alcançaremos as melhorias que surgirão. Esse é o nosso destino.

E a mudança do salário para ganhos por serviços prestados, sem tantos encargos mas não menos atrativos que este, pois deve ser o valor justo pelo serviço prestado/adquirido, passará a ser uma realidade. MARX, já denominava o salário como sendo o preço pago, pelo trabalho apropriado, pelo empregador. Teoricamente o salário deveria corresponder a um valor que preenchesse às necessidades do trabalhador, bem como de sua família, e aí incluí-se as necessidades materiais e culturais. Para que o valor pago favoreça quem paga pelo serviço, o trabalhador durante o tempo determinado em seu contrato de trabalho, deve produzir mais do que aquilo que recebe para produzir, desta forma a mais-valia representa o lucro do capitalista.

O núcleo capitalista tem sempre total liberdade para fixar a taxa de salário que mais se ajusta a seu funcionamento. É assim o salário, produto apenas do funcionamento do mercado de trabalho propriamente dito, através da negociação entre patrões e empregados.

Segundo CASTRO E SCWARTYMANN (1992), o sistema de ensino brasileiro associa a formação universitária a profissões regulamentadas, isto é, alimenta a expectativa de que a formatura em curso superior inaugure uma nova etapa na vida - a vida profissional. Tal expectativa deriva de nossa tradição - que espera do ensino superior uma formação profissionalizante - e de nossa legislação - que credencia os diplomados para o exercício imediato das profissões.

De acordo com FURLANI (1998), o sistema de ensino brasileiro supõe, que os formandos encontram no mercado de trabalho ocupações congruentes com seus estudos. Sabe-se, porém, que é cada vez mais complexa a relação entre conhecimentos, profissões e certificados, em cujo ajuste intervêm o mercado, o Estado, as associações profissionais e mudanças técnicas e socio-econômicas que redefinem produção, transmissão e uso dos conhecimentos nas atividades sociais.

As pessoas freqüentemente fazem escolhas erradas na carreira e pagam caro por isso, por não refletirem devidamente sobre a essência de sua vocação. Muitas dessas escolhas são baseadas na inveja da prosperidade e do prestígio dos outros, muitas são baseadas em idéias falsas sobre o próprio potencial de realização. Por razões não justificáveis, as pessoas abandonam o que são e tentam ser o que não querem, ou não podem ser, por lhes faltar a motivação ou a qualificação,.

A formação e o desempenho profissional tendem a fundir-se em um só processo produtivo, sendo sintomas as exigências de educação permanente, reciclagem e o aumento de adultos e trabalhadores estudantes entre a população estudantil.

Assim, podemos observar que para atingir a competência é necessário fazer aquilo que nos dá satisfação pessoal e realização profissional, abrangendo, portanto, a remuneração desejada.

A evolução de uma carreira está sujeita as inovações e aperfeiçoamentos, tanto quanto as linhas de produtos diversos. Ficar parado no tempo é prenúncio de obsolescência e esse é um mal que tem atingido muitas pessoas que não se dão conta da importância de atualizar-se em vários aspectos de sua formação curricular.

Há uma tendência ao auto-gerenciamento da carreira, algumas empresas passaram a adotar um novo sistema de salário - salário por habilidades - visando estimular o aperfeiçoamento do funcionário e aumentar a competitividade. De acordo com esse conceito, o que interessa é a flexibilidade da pessoa na execução de tarefas e não o cargo. As empresas tornam-se mais competitivas e o indivíduo amplia sua empregabilidade.

Para fortalecer ainda mais a necessidade de encararmos as grandes mudanças que estão acontecendo no mundo do trabalho e do conceito "emprego", há ainda o novo quadro de competição internacional que incentiva a desregulamentação de direitos trabalhistas, flexibilização do contrato de trabalho e várias formas de subcontratação que visam reduzir os custos empregatícios.

Quando uma empresa tem que competir com produtos produzidos a custo praticamente escravo, como por exemplo em Taiwan, como pode conseguir sobreviver pagando as taxas e impostos que um empregado lhe traz?

Ainda que atualmente as importações desse tipo estejam sofrendo algumas barreiras, sem dúvida, em uma economia globalizada a tendência é a competição cada vez mais acirrada com as empresas que além de buscar oferecer produtos mais sofisticados, dentro dos padrões de qualidade exigidos pelo mercado, também reduz seus custos com vínculos empregatícios, e buscam profissionais que forneçam seus serviços a custos menores, sem tantos encargos e com qualidade garantida.

Com o conhecimento tecnocientífico exigindo uma aprendizagem contínua e permanente é impossível prever o que será necessário no futuro. Assim, torna-se indispensável o desenvolvimento de habilidades que ajudem as organizações a se adaptarem com facilidade ao novo e às circunstâncias marcadas pela mudança, pela incerteza e pela complexidade. Em função disso, a criatividade vem sendo apontada como o recurso mais valioso que as organizações dispões para sobreviverem no próximo milênio.

As empresas podam suas estruturas demasiadamente crescidas. Entre as táticas que os Recursos Humanos empregam estão a aposentadoria antecipada, transferência de pessoal para eliminar níveis hierárquicos, demissões voluntárias, etc. Porém, sem uma fiscalização eficiente, as empresas enxutas serão apenas um fenômeno transitório e sem uma real modificação da estrutura organizacional. Pode-se economizar dinheiro a curto prazo, mas não necessariamente melhorará a eficiência de uma empresa, pois "passando a chuva" volta tudo de novo.

Na atualidade, a atenção das empresas está voltada a minimização da estrutura gerencial entre o presidente da empresa e o cliente. Para a empresa se manter viável, é necessário fazer mudanças na estrutura organizacional, no sistema de remuneração, no plano de carreira, na prática de contratação e treinamento, e se necessário, na estratégia global.

Os empregados de todos os níveis, como verificamos através da Reengenharia e Empregabilidade, passam por uma transformação profunda. As funções de nível médio, são as que mais desaparecem com o achatamento das organizações. Neste contexto, o indivíduo que não estabelecer metas claras e objetivas para o desenvolvimento de sua carreira está condenado as estatísticas do desemprego, as quais estão todos os dias nos jornais. Este novo profissional que surge deve ter condições para prosperar nas situações de risco e ser capaz de encarar novos desafios. O profissional atual precisa entender de informática, saber "navegar" pela Internet, falar pelo menos mais dois idiomas, de preferência os globais: Inglês e Espanhol, ter conhecimentos multidiciplinares, estar constantemente informado, ser criativo, flexível, conseguir se relacionar em todos os níveis, ser empreendedor, entre outras qualidades.

Desta forma, com o fim do emprego da forma que o concebemos, para enfrentar essa nova conjuntura temos como desafio a busca de meios para garantir a nossa capacidade de ter trabalho remunerado. E para isso, precisaremos de contínua atualização, de qualificações diversificadas, já que a carreira linear existirá para poucos ou deixará de existir.

Como podemos ver, uma das diferenças entre o modelo anterior e o atual é a necessidade de cada indivíduo assumir a responsabilidade por sua própria carreira, já que os empregos vitalícios, ou mesmo o emprego, não mais existirão. Cada um deve gerenciar sua carreira e aumentar sua "Empregabilidade", conscientes que trabalho sempre haverá, o que mudará (e sempre) é a forma de agirmos sobre ele e defendermos que ele seja exercido com dignidade.

Autora:
Maria do Carmo F Limamariadocarmo29@yahoo.com.br

 

  1. Leitura recomendada:

CANAVARROS, Otávio. O movimento de preços e salários no Rio de Janeiro e sua articulação com a conjuntura social (1850-1930)

CARMO, Paulo Sérgio do. Sociologia do Trabalho. São Paulo: Moderna,1992.

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