Falta secretária com nível superior
Fonte: Jornal do Commércio
29/09/2003 - Por Cristine Pires
As secretárias executivas estão em alta no mercado de trabalho gaúcho. A carência de profissionais com nível superior completo acirra a disputa entre as empresas na hora de contratar pessoal qualificado para a área. Das 50 mil secretárias que atuam no Rio Grande do Sul, 70% são de nível médio. Por isso, as estudantes normalmente já garantem colocação antes de concluir o curso. As alunas conseguem estágio ou até mesmo trabalho com carteira assinada do primeiro ao oitavo semestre, conta Dulce Zimmermann, coordenadora do curso de Secretariado Executivo da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs).
Entre as principais exigências das empresas, estão o domínio de línguas estrangeiras (especialmente inglês e espanhol), boa redação, conhecimento em informática e administração. A exigência do mercado está levando a Pucrs a adaptar o currículo do curso. A partir de 2004, o Secretariado Executivo deixa de ser vinculado à Faculdade de Letras e passa a fazer parte da Administração. O período também será menor: em três anos e meio é possível concluir a graduação. O perfil fica ainda mais empreendedor, explica Dulce.
Tradicionalmente mais ocupado pelas mulheres, o curso também começa a conquistar, aos poucos, o público masculino. Pelos cálculos do Sindicato das Secretárias, 5% dos profissionais hoje são homens. Um dos principais atrativos para quem escolhe seguir no secretariado executivo são os salários, que vão de R$ 1,2 mil a R$ 4,5 mil.
A prática já começa no próprio curso. Uma das atividades desenvolvidas pelas universitárias é a Semana da Secretária, que fica sob responsabilidade das alunas do sétimo semestre. O encontro proporciona a aplicação da teoria aprendida. Na semana passada, a 3ª Semana da Secretária proporcionou palestras sobre qualidade de vida, o perfil da nova secretária e comunicação para grupos.
Amcham tem comitê específico
A Câmara Americana de Comércio (Amcham) criou um grupo específico para debater temas de assunto da categoria. Uma vez por mês, o Comitê das Secretárias Executivas assiste palestras com temas escolhidos pelas próprias participantes, a maioria deles voltada para melhorar a qualidade de vida no trabalho. Também são abordados assuntos técnicos, como dicção, oratória, desinibição e administração do tempo.
A Amcham prepara, para o ano que vem, mais um comitê, desta vez voltado para mulheres de negócios. É uma forma de ampliar a visão de trabalho e as oportunidades, diz Seila Mara Cyrne Bini, coordenadora do Comitê de Secretárias Executivas da Amcham. A idéia é auxiliar com informações e dicas necessárias em um mercado cada vez mais competitivo.
Gostar de trabalhar com o público é fundamental
A profissão de secretária tem um requisito fundamental: gostar de trabalhar com o público. Sônia Maria Soares Dias faz disso uma regra. É preciso saber atender bem todas as pessoas e se adaptar ao sistema de cada uma delas, aconselha.
Sônia trabalha diretamente com Paulo Tigre, que além de diretor da DHB Indústria e Comércio é presidente do Instituto Gaúcho de Estudos Automotivos (Igea), diretor regional do Sindipeças e coordenador do Conselho de Comércio Exterior da Fiergs.
Sônia chegou ao cargo de secretária por acaso. Durante a faculdade de Publicidade, direcionou sua carreira para a área do Marketing, mas foi requisitada para secretariar um diretor na empresa em que trabalhava, e continuou na área.
A rotina atribulada leva Sônia a eleger prioridades. Nesta profissão, tudo é pedido na hora, temos que fazer várias coisas ao mesmo tempo, alega. Por isso, diz, é preciso muito jogo de cintura. O mordomo e a secretária sempre são culpados quando alguma coisa sai errada, brinca.
Padrão médio sofre restrições no mercado
Se as secretárias executivas têm o que comemorar na data da categoria, amanhã, o mesmo não acontece com os técnicos em secretariado. O Sindicato das Secretárias diz que a situação está mais complicada para quem tem apenas o nível médio.
Muitas pessoas que atuam na área e ainda não têm registro acabam ficando sem as garantias que a lei proporciona, diz Susana Guichard Capitão, diretora do Departamento de Divulgação do Sindicato e professora universitária nas áreas de Gestão e técnica em Secretariado.
Para regularizar a situação deste público, o Sindicato trouxe para o Estado o curso nacional de secretariado a distância. Os oito módulos são desenvolvidos em oito semestres, em um total de 150 encontros. Em quatro meses, é possível obter o registro junto ao Ministério do Trabalho.
Susana, que também é secretária de uma instituição pública, explica que grande parte dos profissionais do nível médio investe em cursos de atualização, mas não consegue arcar com os custos do curso universitário.
O Rio Grande do Sul conta hoje com seis cursos de graduação, mas todos em universidades particulares. Precisamos de uma alternativa pública para dar acesso a todos, defende ela.
Data homenageia a primeira datilógrafa do mundo
Durante a segunda fase da Revolução Industrial, em 1860, Christopher Sholes inventou um tipo de máquina de escrever e sua filha, Lilian Sholes, testou o equipamento, tornando-se a primeira mulher a escrever numa máquina, em público. Lilian nasceu em 30 de setembro de 1850. Por ocasião do centenário de seu nascimento, as empresas fabricantes de máquinas de escrever fizeram diversas comemorações. Entre elas, concursos para escolher a melhor datilógrafa.
O sucesso da promoção levou as empresas a repetir a iniciativa anualmente, sempre em 30 de setembro. Como muitas secretárias participavam, a data passou a ser conhecida como o Dia das Secretária.
Com o surgimento das associações da classe no Brasil, apareceram os movimentos para o reconhecimeno da profissão. Uma das conseqí¼ências foi a divulgação e popularização do dia 30 de setembro como o Dia da(o) Secretária(o).
Investir na carreira garante oportunidade de crescimento na empresa
Maria Alice Kíhler Mesquista entrou na Manlec como auxiliar de escritório, logo que concluiu o ensino médio. A indicação para o cargo de secretária veio em seguida. Hoje, ela é responsável por organizar a rotina do diretor comercial da rede, Atilio Manzoli Jr., que também preside a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Porto Alegre.
O crescimento profissional, diz ela, deve-se muito ao incentivo que recebeu da empresa. Alice faz cursos de atualização e está sempre buscando informações que ajudem a desenvolver melhor as tarefas. A rotina começa cedo. Às 8h ela faz a leitura dos principais jornais e repassa as reportagens de interesse ao executivo.
Também é preciso jogo de cintura para conciliar as duas agendas do executivo.
Faço o possível para não sobrecarregar o dia com muitas atividades, explica. Por isso, cada contato ou ligação recebida são avaliados com critérios que levam em conta o interesse e a urgência do assunto. Sempre tento encontrar a solução antes de repassar os assuntos para ele, conta Alice.
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