PERFIL

Artigo publicado na Folha de São Paulo - 4/7/99

SECRETÁRIA MUDA PERFIL E GANHA MAIS DESTAQUE

"A senhora poderia trazer café na sala de reuniões, por favor?"

Esse tipo de cena está cada vez menos presente no dia-a-dia das secretárias modernas.

O perfil dessa profissional vem mudando. Hoje, ela precisa estar preparada para atuar "como uma parceira" da chefia e não apenas como executora de ordens, afirma Stefi Maerker, presidente da Secretary Search & Training, consultoria especializada em recrutamento, seleção e treinamento de secretárias.

"Aquela profissional que ficava atrás de uma mesa esperando o chefe pedir alguma coisa não tem mais espaço no mercado", diz.

Portanto, para se dar bem nessa carreira, é preciso mais que dedicação e uma boa aparência.

Segundo Stefi, "a secretária do ano 2000" tem de estar atenta às necessidades da chefia e antecipar soluções e resultados.

Requisitos

Na opinião de Stefi, é importante que a secretária encare a atividade como uma profissão em que é possível crescer e conquistar o reconhecimento em outras áreas dentro da empresa.

Ela explica que a secretária de hoje é uma mulher que decide, opina e traz sugestões sobre os assuntos de seu cotidiano.

Conhecer vários idiomas e informática e ter domínio do português, boas noções de administração e muito jogo de cintura são requisitos fundamentais.

Segundo Stefi, o curso superior funciona como um ponto a mais para quem deseja encarar a carreira, mas não é imprescindível.

"É mais interessante que ela faça cursos sobre assuntos ligados à sua área, como vendas, marketing e administração."

Salário e idade

Embora o mercado já tenha adotado uma posição mais aberta e até contrate homens para a profissão, a atividade ainda é dominada pelas mulheres.

"Mas políticos, muitas vezes, preferem contratar homens como secretários", afirma Stefi.

Quanto aos salários, uma secretária que só fala português ganha entre R$ 500 e R$ 2.400. Já uma bilíngüe, em início de carreira, recebe entre R$ 1.000 e R$ 2.000. Com dois idiomas e experiência, o salário pode chegar a R$ 6.000 por mês.

A idade não costuma ser uma grande barreira, dependendo da empresa. "Conheço uma secretária de presidência que tem 56 anos e que seria disputada por qualquer empresa", comenta.

Os mandamentos da profissional moderna

  1. Está sempre pronta para assumir o controle da situação, quando acontece algo errado.
  2. É rápida, eficiente, polivalente e tem visão do mercado.
  3. Tem bastante conhecimento de informática.
  4. Domina idiomas, principalmente inglês e espanhol.
  5. Sabe tudo o que acontece ao seu redor e é uma leitora voraz de textos relacionados à área em que atua, como marketing, vendas e comércio exterior.
  6. Tem em mente que uma crítica não significa necessariamente um problema e busca soluções rápidas.
  7. Sabe o momento de ouvir e encoraja o diálogo.
  8. Tem controle emocional e nunca confunde relacionamento profissional com emocional.
  9. Atua em parceria com o chefe e oferece orientações em situações como viagens, Eventos/Cursos e jantares.
  10. É discreta e extremamente polida.

ÁREA RECEBE INEXPERIENTE

Embora as secretárias não possuam, na maioria das vezes, um plano de carreira definido, entrar para a profissão pode ser uma forma de conhecer o mercado, antes de partir para outra área.

Foi o que descobriu a secretária trilingüe Bruna Robles Aguiar, 22. "Eu havia acabado de chegar dos EUA, em 1997. Sabia falar inglês e espanhol e achei que seria uma boa maneira de voltar ao mercado". Em três dias, foi contratada por uma multinacional.

Na Matel do Brasil, empresa do setor de brinquedos, onde trabalha atualmente, Bruna tem dois chefes e diz que a parceria tem de ser cultivada aos poucos. "Ninguém chega a uma empresa já sendo o braço direito do chefe".

Mônica Cristina Rodriguez Langhoff Jensen, 34, secretária de diretoria da Quatro A (telemarketing), diz que entrou para a profissão para aprender a se virar, quando morava na Espanha, mas acabou ficando no ramo.

Ela diz que o principal ponto negativo da profissão é a falta de um plano de carreira. "É difícil tornar-se uma executiva, mesmo com conhecimento para isso".