SECRETÁRIAS DO PRESENTE CONSTROEM O FUTURO
Jornal "OESP" - 28/09/00
Já houve tempo em que a profissão de secretária era vista apenas como uma função operacional. As imagens de referência eram mulheres datilografando cartas, atendendo telefone, servindo cafezinho ou agendando reuniões para o chefe. Hoje, o estereótipo cede lugar ao papel estratégico exercido por essas mulheres dentro das empresas.
Essa foi uma das mudanças provocadas pelas profissionais que foram à luta e, a partir da década de 80, movimentaram o mercado de trabalho com suas conquistas: a criação de cursos universitários, a regulamentação de entidades representativas da categoria, hoje composta por cerca de 4 milhões de profissionais, entre assistentes, auxiliares e secretárias.
Outra mudança: a idéia de que a profissão é exclusivamente feminina; tanto é que a atual presidência do Sindicato das Secretárias do Estado de São Paulo é ocupada por um homem, Francisco Tadeu do Nascimento.
Leida Moraes, presidente da Fenassec-Federação Nacional das Secretárias e Secretários, enfatiza que o papel estratégico da profissão nunca deixou de existir. Palavra de quem foi secretária por 30 anos. "A sociedade desconhecia a realidade por causa de um componente muito forte exigido das profissionais - o sigilo - daí essa imagem operacional. Era um grande engano. As secretárias conectam todas as áreas da empresa, as chefias com os funcionários, e a organização com o cliente externo."
Leida diz que agora as secretárias tem motivos de sobra para festejar, não só pelas conquistas como pelo perfeito enquadramento da profissão aos novos tempos. "Lidamos com informação em plena era da revolução das tecnologias. Além disso, trabalhamos diretamente com pessoas, já inventaram um mercado sem papel, mas sem pessoas, jamais. Somos a profissão do futuro."
As profissionais brasileiras têm um motivo em particular de comemoração: o movimento da categoria no País tornou-se referência no exterior. "A Federação que reúne as associações de secretárias da Espanha, por exemplo, levou nosso modelo sindical para lá e está trabalhando para implantá-lo", conta a presidente da Fenassec. O Brasil foi pioneiro, também, no movimento da globalização, ao propor e conseguir a aprovação do Dia Internacional das Secretárias, comemorado na última quarta-feira de abril.
Viemos para ficar - A profissão de secretariado está mostrando mais a que veio, deixou de ter a preocupação de ser pano de fundo para compreender que a sua profissão é igual a tantas outras, apesar das particularidades. "A evolução depende muito do aspecto comportamental de cada uma. O mercado de trabalho não está fácil, as exigências são muitas, mas buscamos atualização e ascensão. Estamos mais determinadas e confiantes, tivemos de nos desvincular de preconceitos, sermos criativas e, acima de tudo, discretas e confiáveis", diz Iramar do Carmo Silva, 33 anos, secretária da diretoria de gestão de Assuntos Corporativos da Sabesp.
Apaixonada pela profissão, ela lembra que, apesar de toda a evolução, algumas organizações ainda esbarram no estereótipo da moça que serve café e não tem capacidade de tomar decisões. "Mas há muitas empresas que nos vêem como assessoras dos executivos", pondera.
Sua experiência atual demonstra que há espaço, inclusive, para opinar sobre os negócios, ainda que timidamente. "Às vezes, o diretor me pede opinião. Ele ouve e, se concorda, tudo bem, senão cada um fica com a sua idéia", conta sorrindo.
Secretária do Diretor de Tecnologia e do Superintendente de Mercado Internacional da Construtora Camargo Correa, Débora Anfimofi, 27 anos, considera a administração do tempo dos executivos fundamental na sua atuação, seja filtrando informações ou tomando algumas decisões, desde que se tenha o aval para isso. "Também precisamos estar sempre atualizadas no tocante às tecnologias para poder assessorá-los", lembra.
Iramar ressalta que a secretária precisa ter calma e bom humor, para manter o ambiente de trabalho em harmonia. "Geralmente, quando o executivo está mal-humorado, você é a primeira pessoa que ele encontra pela frente. Temos que ter um lado de psicóloga e saber ponderar muito. É crucial para a profissão gostar de lidar com o ser humano."
Entre prós e contras, no próximo dia 30 será comemorado o Dia da(o) Secretária(o). A "melhor homenagem", conforme diz Leida, da Fenassec, acontecerá de 7 a 11 de novembro, com o 12º Congresso Nacional de Secretariado e 3º Simpósio Internacional de Secretariado - evento bienal e itinerante -, no Anhembi, São Paulo. Na ocasião será discutida a socialização do saber como estratégia primordial de desenvolvimento humano sustentado, tema bastante sugestivo e diretamente ligado ao RH das empresas.
Ética e Educação
Segundo a presidente da Fenassec, o recrutamento de pessoal na área de secretariado melhorou acentuadamente na última década em decorrência do trabalho das entidades de classe, mas a questão do sigilo ainda deixa a desejar. Em muitos casos isso não é abordado, quando na verdade é uma exigência da profissão, pois a secretária está ligada diretamente à estrutura das organizações, recebe informações vitais, como novos projetos, produtos, formas de administração. "Tanto é que várias profissionais optam por procurar emprego em ramos de atividades diferentes para não correr riscos éticos", destaca.
Leida também aponta que poucas empresas preocupam-se em verificar se as profissionais são registradas na DRT-Delegacia Regional do Trabalho. "Quando a profissão foi regulamentada, era pior, pois havia a idéia de que qualquer um poderia exercer o cargo, mas a profissão exige preparo como outra."
No tocante à formação profissional, a presidente da Fenassec diz que há alguns pontos cruciais a serem sanados. Apesar dos cursos de terceiro grau criados em 1981, o Estado de Alagoas, por exemplo, não possui nem mesmo formação técnica para a profissão. Também faltam cursos universitários gratuitos, diferentemente do que acontece em outras áreas. |