POLITICA

O Sexto Poder
Adilson Luiz Gonçalves - 14/4/2004

Ao longo da História, os modelos de governo rumaram até a consolidação dos três poderes atuais: Executivo, Legislativo e Judiciário. Os abusos, leviandades e alienações destes motivaram o surgimento de um quarto poder: a Imprensa.

A degradação das instituições e a falta de sensibilidade dos governantes para com os problemas sociais abriram espaço para a disseminação e ascensão de um quinto poder: o Crime Organizado.

Hoje, é difícil distinguí-los, pois, seguindo, de forma distorcida, a mesma estratégia das grandes corporações empresariais, a regra é diversificar.

Esses são os cinco poderes que exercem suas vontades à revelia da sociedade, revestidos, ou não, do verniz da legalidade. Mas existe um sexto poder, que paira sobre toda a Humanidade e que pode, dependendo da ocasião, nos tornar vítimas ou algozes: o preconceito!

Não se sabe ao certo sua origem - se da Guerra dos Anjos ou de Abel e Caim -, mas sempre há alguém disposto a retransmiti-lo. Ele pode ser fruto da ignorância de quem o adquire, ou da má-fé de quem o estabelece. Ele serve de desculpa e bálsamo para as nossas fraquezas - quando não temos coragem de enfrentá-las e superá-las - e de fermento e combustível para a manutenção da ascendência forçada de uns sobre os outros.

O preconceito é uma erva daninha, que cresce no solo adubado pela inveja e pelo ódio. Seu poder alucinógeno é tanto, que faz um ser humano acreditar que é o que não é, e que os outros são o que não são. Transforma iguais em opostos, inferiores, escravos ou inimigos.

O preconceito é a ausência da razão! É a lógica da intolerância! Ele também deve ter saído da Caixa de Pandora...

Os preconceituosos preferem cultivar suas chagas, em vez de curar suas feridas. São capazes de achar diferenças em tudo e dividir a sociedade em camadas, como um castelo de cartas, da qual se acham o topo.

O pior é que muitos preconceitos são transmitidos com a auréola de tradições. Alguns de seus guardiões tentam disfarçá-los, sob o manto do puritanismo e da disciplina rígida. Não há lugar para a razão, mas apenas para a obediência.

Os animais irracionais marcam seus territórios com excrementos. Não é muito diferente com os preconceituosos...

Esse sexto poder é o mais perigoso, pois quando assume os quatro primeiros, torna-se incendiário e multiplica-se em escala epidêmica. Seus principais resultados são: conflitos religiosos, raciais, étnicos ou qualquer outro pretexto que a estupidez humana eleja.

Mas isso só funciona para platéias que vão ao show para gritar o nome do ídolo, e não para as que querem apreciar um espetáculo belo e inesquecível. A razão restaura e anima o espírito, enquanto o preconceito lhe deixa marcas e seqüelas!

Os futurólogos projetam, para daqui a algumas décadas, uma Humanidade mestiça e ecumênica. Na contramão do futuro, os preconceituosos insistem em demarcar e expandir seus "territórios", não importa a que preço e por qual meio. Diante desse horizonte maniqueísta, precisamos demonstrar que temos o poder de decidir trilhar os caminhos do convívio pacífico, pela razão; em vez do das disputas cegas, surdas, antropofágicas, históricas e histéricas pelas quais o sexto poder tem conduzido a Humanidade.

Já está na hora de acordarmos para esse sétimo e divino poder, que é de todos e por todos deve ser exercido!

Adilson Luiz Gonçalves - Engenheiro, Professor Universitário e Articulista - E-mail: algbr@ig.com.br

Fonte: www.diap.org.br